sexta-feira, agosto 18, 2006

Aí vem à mente as imagens da Turiba de minha infância

Artigo de Sebastião Loureiro, publicado no Jornal Folha do Sul (Itapeva) em 18-12-2004

MONJOLO, TRATOR E CIDADE GRANDE

De manhã, na Castelo Branco, enorme quantidade de caminhões levando frango, leite, iogurte, verdura, milho verde, tudo. Já na Capital, uma feira coalhada de gente comprando e vendendo.
- Interessante, como pode uma cidade desse tamanho não ter problemas de abastecimento?
- Ao contrário, há de tudo.
- Como ninguém é obrigado, qual a força que induz milhares de pessoas a se dedicarem frenética e espontaneamente a produzir, transportar e vender tanto, sem o que a vida na cidade seria inviável?
- Cada qual precisa trabalhar, ganhar dinheiro para satisfazer suas próprias necessidades e desejos. É o que move o mercado.
- Duro para os pobres e desempregados.
- Verdade. Mas para isso existe governo que arrecada pesados impostos de quem trabalha e produz, exatamente para fomentar a economia e compensar o lado mais fraco.
Aí vêm à mente imagens da Turiba de minha infância. O sítio pré-capitalista da dona Fia Nito, cuja produção era destinada, sobretudo, ao sustento da família e dos meeiros. A carne de porco conservada na banha, em latas de 20 litros. O cavalo baio que andava em círculo para girar o engenho de pau, de onde escorria a garapa de cana, depois transformada, na fervura dos tachos, em melado, rapadura e açúcar mascavo.
O monjolo do Miguel Rosa que fazia farinha, tocado por água desviada por coqueiros cortados em cuia.
O armazém do pai, que vendia o que os sítios não produziam: querosene, BHC (ambos vendidos no picado!), creolina, enxada, foice, açúcar branco, macarrão, sardinha, sal, cerveja quente e a “marvada” pinga de todas as ocasiões.
Agora é diferente, os meeiros foram pra cidade construir caminhões e tratores, com os quais os agricultores abastecem a cidade grande (ex-meeiros construíram também fortes sindicatos e lideranças políticas).
Cada fazenda produz não mais que dois ou três produtos – para vender. E compra quase tudo no comércio, desde ovos, leite e verduras. É o que chamam de divisão do trabalho: é preciso especializar-se para ter competitividade, senão o banco toma.
Bem ou mal, é a marcha inexorável da História, cuja lógica parece advir da evolução do conhecimento e da tecnologia, que ditam em cada período o modo de produção e de apropriação, com amplo reflexo nos mais variados campos do relacionamento humano.
Saudosismo resolve?
Sebastião Loureiro

1 Comments:

Blogger Avinca said...

Vendo sua informação me vem na mente o tempo em que morei aí. 1.964 a 68. Havia fartura de tudo, os sitiantes Zezico gumercino, Zezão, que tinha um sitio la encima o João loro, criavam muito porco e vendiam gordo. Enchiam caminhão destes porcos e levavam. No dia em que o caminhão encostava, parava bem em frente nossa casa. E minha mãe dizia. Olha aquela bolsa de plastico pendurado no ombro do homem, aquilo tudo é o dinheiro pra pagar o caminhão de porco. E existia a hospitalidade dos outros vizinhos, meus pai mesmo ia la de livre e expontania vontade, ajudar derrubar os porcos, um por um e colocar numa caixa(parece que chamava Gamela) e o porco ficava ali quietinho enquanto pesava na balança. Depois de tudo feito, eu e meu irmão o cidinho, nós moleques ficava de olho o homem abrir a bolsa de plastico e tirar muitos pacotes de dinheiro para o pagamento. E era muito dinheiro, porque o dono dos porcoa até pedia pro meu pai e outros homens de sua confiança a ajudar a contar tudo. Deve ser a emoção da venda. E nóis, moleques corria pra casa: Mãe, é verdade, aquela bolsa tava cheia de dinheiro mesmo!!!
Hoje, pelo que vi mudou muit este lugar.

abril 16, 2010 10:17 PM  

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