quarta-feira, junho 28, 2006

TURIBA DO SUL

- Mãe? Vou buscar a senhora.
- Então venha. Venha pro almoço.

Fui.

Fui lá curtir minha caipirice! Rever a mangueira das vacas, o “paió”, o bom cheiro do estrume curtido, o velho pomar. Fui lá na cachoeira beber água na biquinha de pedra!

Fui lá curtir saudade! Tio Batista Loureiro. Zezico Leandro. Tio Mi. Isídio Mateus. Tio Milo, que deu dinheiro para comprar meu primeiro dicionário. Braz Maia que queria saber quantas palavras se aprende escrever depois de doze anos de banco escolar! A vó Teonila. Tia Lazica. Maria Perova que passava pelas brasas da fogueira de São João sem queimar os pés grossos de andar descalços. Tia Maristela. O Severino que falava fino e brincava de andar com as mãos, de ponta-cabeça. O Dilo Padia que não parava de rir da própria risada. Chico Anjo de perna torta que andava "dançando".

Ah! É tempo de laranja lima, de colheita! Saudade do Zé Maria Loureiro. De baldear milho em palha na carroça. “Vamo, vamo mula véia peidorreira. Vamo, Ruana! Vamo, Pampa preguiçosa!”.

Tio-padrinho Renato, o último que se foi. Tia Bizinha. Tio Erotides que prefeitou Itaberá. Tia Lili. Tia Sulica. Tio Luiz. Tio Zequinha. Zé Mariano, o líder e compadre de todo mundo. João Durica. Lazinho Maia que contava história de Corpo-Seco. Roque Ziquer. Batista Lima que soltava rojão nas festas. Padre Miguel, veterano da Segunda Guerra, que confundia rojão com tiro de canhão. Dito Saci, o motorista de qualquer hora. Zé Peroba, o último vaqueiro pré-antibiótico! Chiquitão, que ouvia a "Hora do Brasil" no rádio de pilha. Dona Fia Nita, que fazia açúcar mascavo. Ziquinho Rocha, sanfoneiro dos bailinhos inocentes que não passavam da meia noite! Nhá Chica, que falava umas palavras esquisitas porque descendia de africanos. Os italianos "seu" Otávio e Zé Desidera, ceboleiros. Joaozão Gomes que gargalhava de perder o fôlego com o futebol de bola de meia da gurizada briguenta. Que falta vocês fazem!

Fui lá curtir o frio. Frio que lembra cobertor. Que lembra carinho e aconchego do pai. Roque, grande Roque Loureiro, que saudade! Valeu, velho. Valeu a lição de bom-humor, a lição de resignação de Jó. “Meus filhos, honestidade abre portas.” Ah! Como abre! Ensinava pelo exemplo: “Irmãos têm que trabalhar unidos”. Ah! Como têm! “Estudem, estudem, estudem!”.

Valeu, velho! Mas valeu mesmo!